Relato de caso: Ferida em região lombo sacra de eqüino causada por aplicação de medicamento

sulfazidina de pratas

Por Vicente Ferrer De Mendonça Neto – https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/4183/1/VFMN14052018.pdf

Esse relato tem como objetivo descrever um caso de uma égua da raça quarto de
milha de um ano e seis meses de idade, aonde o proprietário solicitou a presença do
médico veterinário na propriedade para consulta clínica, o proprietário relatou que foi
administrado dois medicamentos em intervalo de seis dias entre os dois, por via
intramuscular, na região glútea esquerda. O médico veterinário constatou a presença
de um abscesso maturado na garupa esquerda, e já apresentava uma ferida aberta,
após a constatação foi feita a limpeza e remoção do tecido necrosado incluindo
musculatura, irrigação, nervos e processos transversos de algumas vértebras
lombares, foi feito a escolha terapêutica com medicamentos de uso tópico e
sistêmico. Ocorreu uma cicatrização do local acometido após sete meses de
tratamentos.

1.3 – Tratamento
Em relação a eficiência do tratamento e necessário um ambiente favorável,
livre de microrganismos infecciosos para que ocorra uma reparação cicatricial
adequada. A cicatrização por segunda intenção necessita de uma higienização por
meio de pomadas que necessitam de analise previa, devido a eficiência do
medicamento, dosagem, tempo de ação, valor comercial e se formam tecido de
granulação exuberante.
Um fator relevante durante o tratamento é a localização anatômica da ferida
devido a contração muscular que dificulta a cicatrização, como falado anteriormente
feridas em membros distais possui menor cicatrização comparada as feridas no
corpo. Em casos que ocorrem a formação de tecido de granulação exuberante é
indicado a remoção cirúrgica por ser um método simples e eficaz, ou por meios de
pomadas a base de Ketanserina, utilizada na prevenção da formação do tecido
exuberante nos membros, a mesma possui ação antagonista na indução de
serotonina que ativa células de poder fagocitário como os macrófagos (WILMINK,
1999).
Isolando a ferida de microrganismos contaminantes realiza-se a tricotomia
para a higienização da ferida reduzindo os contaminantes, outro método eficaz para
o êxito da cicatrização e a remoção do tecido morto juntamente com a irrigação
também chamada de lavagem que higieniza feridas causadas por traumas. O uso de
bandagem ou gesso e de grande importância devido a diminuição da formação do
tecido de granulação exuberante por meio da imobilização e evita a entrada de
agentes indesejáveis, outra função contra choques físicos e ajuda a fixação de
medicamentos de uso tópico.
Os tratamentos se dividem em alopáticos e fitoterápicos discorridos
respectivamente: o Iodo-Povidine é indicado para tratamento de feridas por ser um antimicrobiano que tem ação de amplo espectro em concentrações de 0,1% a 0,2%
causando um efeito de esterilização, esse medicamento é comercializado por
diferentes formulações como spray, creme, solução (MOENS, 1980). A junção entre
o Iodo-Povidine e o açúcar cristal irá formar um agente hipertônico que age por
osmose para retirar exsudato da ferida (BERRY & SULLINS, 2003). Outro
antisséptico importante é a água oxigenada na concentração de 3% possuindo uma
ação de largo espectro combatendo bactérias gram positivas e algumas Gram
negativas (DROSOU, et al 2003).
A Clorexidine 2% é muito utilizada no tratamento contra staphylococcus
aureus, pseudômonas aeruginosas e bactérias não esporuladas, porem em feridas
abertas a sua eficácia possui menor resultado. De acordo com algumas citações, a
Nitrofurazona demonstrou retardo na contração da ferida, epitelização e reparação
no geral (BERRY & SULLINS 2003).
A Sulfadiazina de prata 1%, pode ser utilizada na cicatrização de feridas
cutânea, tendo um potencial séptico, escoros de decúbito e feridas cirúrgicas.
O mel de abelha além de ter ação antimicrobiana e anti-inflamatória, estimula novos
fatores de crescimento de tecido. Para finalizar exemplos de tratamentos alopáticos,
os enxertos possuem função de retardar a formação do tecido de granulação
exuberante, causando uma barreira antimicrobiana que mantém a ferida livre de
infecções (PURNA & BABU, 2000).
A gentamicina é excelente para graves infecções gram-negativas, mas deve ser
usada apenas em casos selecionados, já que pode desenvolver resistência e ser
nefrotóxica em pacientes com problemas renais (CERESER, SCHENKEL &
BERGOLD, 1995; HANSON, 2005).
Os enxertos possuem função de retardar a formação do tecido de granulação
exuberante, causando uma barreira antimicrobiana que mantém a ferida livre de
infecções (PURNA & BABU, 2000). O sulfato de gentamicina não tem um espetro de
ação muito larga, mas pode ser aplicado em feridas contaminadas com bactérias
gram-negativas, particularmente com Pseudomonas aeruginosa (ORSINI & DIVERS,
2014).
O uso da prata para prevenir e tratar infecções é um dos primeiros cuidados
com as feridas e está documentado desde 69 AC. A prata tem um espetro
antimicrobiano amplo, incluindo leveduras, fungos e até bactérias resistentes a
antibióticos como Sthaphilococcus aureus resistente à meticilina e enterococcus resistentes à vancomicina quando usada em concentrações adequadas (MURPHY &
EVANS, 2012).
O tratamento fitoterápico tem indicações para diversos tipos de enfermidade, de
uso consagrado e pertencente a farmacopéia que se define como conjunto de
informações técnicas que retratam a nomenclatura das substâncias, dos princípios
ativos e coadjuvantes (HEGGERS & KUCUKCELEBI, 1995).
A Triticum vulgare possui fitoestimulinas que agem na cicatrização, de forma
que estimulam a mitose e motilidade dos fibroblastos, o uso desse principio ativo
aumentou a quantidade de vasos sanguíneos neoformados no inicio da cicatrização
(SOUZA et al. 2006). A Babosa (Aloe vera) tem um efeito de reparação tecidual e
antinflamatório considerável por possuir constituintes que ajudam no tratamento
tópico de feridas (ROVATTI & BRENNAN, 1959). Comparando os dois fitoterápicos a
Babosa (Aloe vera) tem um poder de cicatrização maior em relação aTriticum
vulgare. As estripes bacterianas resistentes continuam a ser uma grande
preocupação na medicina hoje em dia. Assim, é importante o desenvolvimento e o
uso de produtos alternativos para a cicatrização de feridas, principalmente aqueles
que não induzem resistência bacteriana a exemplo dos medicamentos fitoterápicos
(ORSINI & DIVERS, 2014).
O barbatimão Stryphnodendron barbatiman é um produto fitoterápico extraído
quente em solução aquosa, Contêm em média 20% de tanina, princípio ativo que
tem ação adstringente, a tanina precipita as proteínas dos tecidos lesados, formando
um revestimento protetor, que irá formar a reparação tecidual, diminuindo a
permeabilidade e a exsudação da ferida (MARTINS et al.,2003). Também tem ação
anti-inflamatória, protetor da mucosa gástrica e analgésica (BEZERRA et al.,2002;
REBECA et al.,2002).
Os tratamentos mais modernos como shock wave, laser terapia, ozônio estão
mostrando muita eficácia nos processos inflamatório. A terapia com laser tem sido
administrada como objetivo de promover melhor resolução de processos
inflamatórios, redução da dor, evitar a ocorrência de edema, bem como, preservar
tecidos e nervos adjacentes ao local da injúria. Tais efeitos podem ser alcançados
através de comprimentos de onda entre 600 e 1000nm e potências de 1mW a
5W/cm 2. Têm sido descritos diversos mecanismos com o objetivo de explicar os
efeitos das ondas de choque, incluindo a estimulação direta da cura, neovascularização, efeitos supressores diretos sobre os receptores e hiper
estimulação (NOTARNICOLA & MORETTI, 2012).
O tratamento tópico, com bolsa, bag ou touca, consiste em um método muito
eficiente para o tratamento de lesões, úlceras, escaras, feridas abertas e lesões pósoperatórias localizadas nos membros dos animais. Necessita de um sistema
fechado, para limitar a área de atuação do gás. O membro é revestido por um
material ozônio resistente para restringir a concentração do gás apenas no interior
deste material. Utilizasse por cerca de 20 a 30 minutos, e os resultados após
algumas seções são muitos satisfatórios (OLIVEIRA, 2007).
O ozônio (O3) é um gás instável, incolor e de odor característico, constituído
por três átomos de oxigênio e sendo uma forma alotrópica do mesmo (KIRCHHOFF,
1995). O tratamento com ozônio não pode ser uma terapia principal, porem como
terapia coadjuvante pode trazer muitos benefícios ao paciente (VIEBAHNHAENSLER, 2001). Sua função no tratamento de feridas se baseia em propriedades
imunomoduladoras, de acordo com sua dose, melhora o estado anêmico e a
circulação sanguínea (RIFA & MUSA, 2005). O uso de ozônio ajuda na
vasodilatação e com isso na oxigenação em áreas isquêmicas (ALVES et al., 2004).

2.RELATO DE CASO
Foi atendida na cidade de Campina Grande – PB uma potra de um ano e seis
meses da raça Quarto de Milha, 400kg, alimentada com ração balanceada e capim
elefante como volumoso, queixa principal de um abcesso na região lombo sacra
esquerda. De acordo com proprietário a aplicação de um complexo vitamínico a
base de retinol, calciferol, tocoferol, nome comercial ADE no volume de 10 ml, dez
dias depois foi administrado outro complexo vitamínico a base de lisina, carnitina,
valina, triptofano (POLIFORT®
) ambos foram administrado na região glútea
esquerda. Após cinco dias, o animal apresentou um aumento de volume
considerável na região da garupa esquerda, perda de apetite, temperatura elevada,
o proprietário relatou que fez compressa com água morna e usou flunixin meglumine
na dose de 1 ml para cada 45 kg de peso vivo do animal, que deu um volume de 8,8
ml, 1 vez ao dia, por via endovenosa durante três dias.

Na consulta feita pelo veterinário foi constatado um abscesso maturado na
garupa esquerda, com ferida aberta, edema no membro posterior esquerdo por
inteiro, claudicação.

Após a consulta foi feito um protocolo de tratamento no qual foi escolhida a
associação de antibióticos. No primeiro dia foi administrado antibiótico a base de
penicilina na dose de 20.000 UI/kg via IM uma vez ao dia, foi usado outro antibiótico
a base de gentamicina na dose de 3mg/kg na IV, a antibiótico terapia foi estabelecida por cinco dias, o anti-inflamatório escolhido foi o flunixin meglumine na
dose de 1mg/kg IV durante três dias. Cinco dias após o tratamento estabelecido pelo
médico veterinário foi observado uma necrose na região glútea, músculos bíceps e
fáscia glútea profunda. Observou-se uma fístula pouco acima da região do jarrete
esquerdo, na porção lateral.
Realizou-se remoção de todo tecido necrosado incluindo musculatura e o
processo transverso das três ultimas vértebras lombares L7,L6 e L5, no qual toda a
inervação e irrigação dessas vértebras também foram removidas. Continuou-se
tratamento com penicilina 20.000 UI/kg durante três dias, foi feita a tricotomia,
limpeza diária com clorexidine degermante 2%, pomada a base de nitrofurazona
(Furancin®
) associado com açúcar até a formação do tecido de granulação, no qual
foram oito dias, foi trocado o cicatrizante de uso tópico por uma pomada a base de
óxido nitroso (Ungueto®
), para baratear os custos. Vinte dias após início do
tratamento, o animal apresentou um quadro de febre e queda no apetite, foi então
incluído ao tratamento ceftiofur na dose de 3 mg/kg na via intramuscular durante seis
dias.

Após sete meses de tratamento, limpeza diária e descanso do animal ocorreu
a cicatrização da lesão.